RESENHA || O LIVRO QUE NÃO ESCREVI


Título: O Livro Que Não Escrevi
Autor: Anderson Borges Costa
Editora: Giostri
Páginas: 159
Ano: 2016

Avaliação: 

Sinopse: Com contos que funcionam como verdadeiros submarinos que mergulham fundo na alma, as histórias narradas em “O Livro que não Escrevi” oferecem ao leitor a oportunidade de viajar na complexa natureza de personagens que se desnudam em situações de angústia, felicidade, amor, dúvida, prazer e finitude, agarrando-se a raros fios de vida, pingados nas entrelinhas da existência humana. Através de uma prosa altamente poética, Anderson Borges Costa traduz, em cada conto, flashes de humanidade que convidam os olhos que os leem a se aquietarem e a se questionarem diante do espelho.




“O Livro Que Não Escrevi” é a segunda obra do autor Anderson Borges Costa. O livro, composto por 32 contos, tem como recurso mais enfático da sua criação escrita a metalinguagem que auxilia a poetizar as descrições de sua prosa e até aguçar o leitor por meio da trama. É pertinente elucidar que o livro inicia com o conto intitulado pelo mesmo nome da obra e encerra-se no com o conto “O Livro Que Escrevi”, o que de cara é um tanto curioso. Apesar de possuir essa sequência pertinente que guia o leitor a vislumbrar o conteúdo como um todo, degustar “O Livro Que Não Escrevi” de gole em gole é passível e até sugerido pelo autor, havendo a possibilidade de ler os contos aleatoriamente. 



O primeiro conto traz a ludicidade para a obra. Por mais que a princípio pareça apenas uma narração do autor sobre seu desejo de escrever permeado por um “E se...”, o anseio de compor uma história e sua descrição estão envoltos por personagens e lugares fantásticos. Nele temos uma passagem do real para o imaginário em questão de segundos.

O conto “Nobre Convite” foi o que mais me deixou aguçada pela escrita de Anderson Borges. Para aquele leitor que se interessa por um tom mais visceral e realista, “Nobre Convite” é um prato cheio. A partir dele, os sentidos são aflorados, principalmente o olfato e o tato. Esse fator me fez associá-lo ao estilo temático de Augusto dos Anjos. No conto, temos um personagem que se encontra no Rio de Janeiro, mais precisamente em Copacabana, e encontra um livro dentro do lixo.

“Puxou do saco um objeto de papel com capa dura: um livro. Misturado às fezes e à baba do ovo [...] O livro saído do lixo se acomodou nas mãos do homem sem cabelo, sem comida, sem teto, com fome, com sede, com sono”. p. 15
Nesse conto, a trama se desenrola entre a história desse homem, os seus sentidos para com o mundo (pessoas, clima, espaço) ao seu redor, a narrativa e os personagens do livro que ele encontra e os seus sentimentos para com essa nova história que ele adentra a partir da leitura.

“O livro tirava-lhe o fôlego, tirava-lhe o chão e oferecia, no lugar do chão e do fôlego, um sopro falso de realidade.” p. 18
Outro conto que me conquistou bastante foi “Ponto Final”. Esse conto narrou o banal cotidiano de indivíduos que dependem do transporte público para se locomoverem, nele teremos um narrador personagem que descreve desde sua justificativa para não dirigir um automóvel, até as características das pessoas que o acompanham na espera de um ônibus. Em um determinado instante da leitura me senti lendo um crônica principalmente a partir do clímax envolvente que transporta o leitor para a situação relatada, além de intrigantemente voltar à rotina comum apesar de um acontecimento tão impactante, levando-nos a refletir acerca dele.




Um conto que é imprescindível citar é “Almafabeto”, nele temos o desenrolar dos parágrafos através de um jogral do alfabeto. A trama se inicia com o despertar de um homem que ao acordar atordoado por causa de batidas na porta, encontra ao seu lado na cama o corpo de uma mulher, tal qual ele parece não conhecer e tenta descobrir quem seria aquela pessoa que divide consigo o cobertor, a cama, o despertar, as sensações... O autor joga com a linguagem terminando cada parágrafo com a palavra que iniciou o mesmo. É um dos contos que por ele vale a pena investir na obra. 

         É perceptível o tom crítico e reflexivo de Anderson Borges Costa ao tecer seus escritos ao mesmo tempo que traz o encanto, o lirismo e a beleza da Literatura em suas narrativas.

“Não entendia exatamente o que se passava com ela, mas achava bom. Sentia-se solta, livre, leve e transparente.” p. 45

 Temos na obra também os contos “Implavável Placar”, sobre o encanto futebolístico; “O Desfile Embriagado Da Noite”, sobre o empasse entre si, o álcool, os problemas e a relação familiar; “Grito, O Poeta”, acerca de uma paixão platônica de um dia apenas, que é escrita em versos por um poeta sem nome; “O Útero”, que até agora me deixou intrigada sobre qual seria sua real temática; “Segmento De Tempo”, sobre a mumificação fora das regras de um dos filhos de Faraó; entre outros.

“Hoje não choverá, pois as estrelas estão juntas, abraçadas, [...] hoje, são um enxame de abelhas protegendo do calor a rainha, refrescando-a sob o mel escorrido da colmeia estelar. O calor esta noite é doce.” p. 50

O último conto tem grande influência na culminância da obra, pois o autor narra seu processo de escrita, principalmente pré-realização. Em “O Livro Que Escrevi”, ele concretiza sua obra, o desejo de compor um livro aconteceu e com louvor, com rica metalinguagem e com profunda intertextualidade.

“O escritor não escreve a história; o escritor a revela, erguendo o tecido fino que encobre o rosto do enredo para descobrir os personagens nascituros à espera de surgirem no espaço branco de uma página”. p. 158

“O Livro Que Não Escrevi” é uma obra indicada para leitores maduros. É necessário a compreensão de alguns termos científicos da linguagem para mergulhar de cabeça, nadar e se aprofundar em alguns dos contos de Anderson Borges. Entretanto, para leitores que são afeitos aos mergulhos na alma humana podem degustar e até lambuzar-se na escrita encantadora do autor. Para leitores que se afeiçoam aos contos e crônicas, também é válida a leitura da obra.




Essa foi a primeira obra que li do autor. E você? Conhecia Anderson Borges Costa? Se interessa por contos? Qual dos contos descritos mais lhe agradou?




Anderson Borges Costa, brasileiro, é coordenador do Departamento de Português da escola internacional Saint Nicholas, em Pinheiros, onde também atua como professor de Português e de Literatura Brasileira. É professor de Inglês no curso Cel Lep. Formado e pós-graduado pela Universidade de São Paulo em Letras (Português, Inglês e Alemão), é crítico literário e resenhista de livros para várias revistas de arte e literatura, como a “Germina”, onde assina a coluna "Adrenalina nas Entrelinhas".



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14 comentários:

  1. Olá
    Eu não conhecia o autor, mas tenho a leve impressão que já vi essa capa em algum lugar, mas não estou lembrado rsrs. Fico feliz UE tenha sido uma elitista legal. O título causa um impacto com o leitor bem grande rsrs, a coa com a sua simplicidade fixou bem bela e organizada. Espero poder ler a obra no ano o que vem e até mais ver
    Bj

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    1. Manoel, sou o Anderson, autor de "O livro que não eacrevi". Caso você se interesse em ler o livro, compartilhe, depois, suas impressões. Será um prazer saber o que achou dos contos (mesmo que não goste).
      Aproveito para desejar a você um ótimo 2017!
      Abraço,
      Anderson Borges Costa

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  2. Ola
    Eu nao conhecia esse titulo, mas adorei poder conferir suas impressões a respeito. Apesar de curtir a leitura de obras mais maduras, nao sei dizer se leria esse livro ou nao. Claro que fiquei curiosa sobre alguns elementos, mas sou bem indecisa quando se trata de contos e relacionados.
    Beijos, Fer
    www.segredosemlivros.com

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    1. Fer, sou o Anderson, autor de "O livro que não eacrevi". Caso você se interesse em ler o livro, compartilhe, depois, suas impressões. Será um prazer saber o que achou dos contos (mesmo que não goste).
      Aproveito para desejar a você um ótimo 2017!
      Abraço,
      Anderson Borges Costa

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  3. Ola!
    Não conhecia esse livro nem autor. E gostei do teu ponto de vista mas confesso que a sinopse não me chamou tanto atenção.
    Mas quem sabe leia futuramente.

    Beijos,

    Camila de Moraes - Blog Obsession

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  4. Camila, sou o Anderson, autor de "O livro que não eacrevi". Caso você se interesse em ler o livro, compartilhe, depois, suas impressões. Será um prazer saber o que achou dos contos (mesmo que não goste).
    Aproveito para desejar a você um ótimo 2017!
    Abraço,
    Anderson Borges Costa

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  5. Bruna, sou o Anderson, autor de "O livro que não escrevi". Caso você se interesse em ler o livro, compartilhe, depois, suas impressões. Será um prazer saber o que achou dos contos (mesmo que não goste).
    Aproveito para desejar a você um ótimo 2017!
    Abraço,
    Anderson Borges Costa

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  6. Camila, sou o Anderson, autor de "O livro que não eacrevi". Caso você se interesse em ler o livro, compartilhe, depois, suas impressões. Será um prazer saber o que achou dos contos (mesmo que não goste).
    Aproveito para desejar a você um ótimo 2017!
    Abraço,
    Anderson Borges Costa

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  7. Olá!
    Sou apaixonada por contos, fico com receio de ler a obra e não me aprofundar do jeito que ele fez, mas fiquei muito curiosa para ler "Almafabeto", parece ser algo diferente dos outros; adorei o jeito que você deixou bem detalhada a sua resenha. E espero um dia ter a maturidade para ler a obra em toda sua grandeza.
    Beijos, Lari.
    Segredosdeumacerejeira.blogspot.com

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  8. Oi Jessica, tudo bem?
    Não tenho o hábito de ler contos, mas vez ou outra gosto de pegar para ler quando estou de ressaca ou apenas para descontrair mesmo. Só de ver os títulos eu já fiquei curiosa, já quero conhecer Almafabeto, Ponto Final e principalmente Nobre Convite, pois achei a premissa muito legal. Espero ler um dia.

    Beijos! ♥

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  9. Oie Jessica
    Ainda não conhecia essa obra e, infelizmente, a sinopse não me chamou atenção. Achei interessante vc colocar que é indicado para leitores maduros. Fiquei pensando se não me encaixaria pelo fato de não ter tido interesse pela leitura, mas acredito que isso vai mais pelo gosto literário do que por outra coisa.
    Enfim, que bom que a leitura foi agradável. Pra mim, talvez em outro momento a leitura será válida sim.
    Bjo

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  10. Oi oi querida,
    Fico muito feliz que você tenha gostado do livro, é sempre ótimo embarcar em uma leitura que te envolve. O livro tem uma ótima escrita. Gostei dos quotes, isso me fez gostar mais da história criada pelo autor. Não sou lá fã de contos, mas ultimamente estou dando a oportunidade a esse gênero.

    P.S a sua resenha me deixou curiosa a conhecer mais obras do autor, vou ver se dou uma chance ao livro.

    Beijos, Enjoy Books

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  11. Oi, tudo bem?
    Gosto muito de contos. O livro parece se destacar pela linguagem que o autor usa. Não lembro de ter lido nada parecido, então, mesmo não tendo lido, o autor já ganha pontos pela originalidade.

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  12. Olá Jéssica, tudo bem?

    Desconhecia o livro, mas só de ver que foi a Giostri que publicou, vou passar.

    Logo no início do blog, há uns 4 anos, o dono da editora foi tão ignorante, dizendo que não precisava de bloguezinho pra vender seus livros, que decidi nunca mais ler nada publicado por eles, rs.

    Beijos

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